sexta-feira, 16 de maio de 2008

Descaso com o Centro

Andar pelo Centro está difícil. São lajotas soltas, marquises caindo, lixo nas ruas, pichações em excesso, iluminação precária e insegurança. O que fazer para o Centro voltar a ser o que era antes? Traçando uma linha sobre um mapa do Centro, começamos pela Avenida Mauá. No caminho pela autopista até o Gasômetro, conta-se nos dedos os prédios que não estão pichados. Aline Torres, moradora da Avenida Salgado Filho, diz ter a explicação. “Isso tudo é uma forma de alimento. O homem sobrevive da comunicação, isso é vital para a humanidade. A gente vê pinturas desde a arte primitiva até a arte considerada profana. Eu acho que a pichação também tem isso: a busca da auto-afirmação, essa busca pela comunicação desse homem perdido, contemporâneo”.

Para o advogado Felisberto Luisi, a pichação é uma questão de descaso público. “Falta conscientização às pessoas, uma consciência de respeito. Além disso, existe uma falha da Guarda Municipal, que não vemos fazer ronda, não vemos nas ruas. Justo ela que deveria zelar pela propriedade pública”.

A Secretaria Estadual de Segurança trabalha com o “disque-denúncia”: chamando pelo número 181 o cidadão pode denunciar abusos contra o patrimônio público. Luccas Priotto, morador da Rua João Manoel e amante dos restaurantes da Rua dos Andradas, desce praticamente toda a semana para a Rua da Praia em busca de uma a la minuta boa e barata. Com a comida se satisfaz. Com o que vê, não. “É impressionante chegar na Andradas, tem muito lixo pela rua. São sacolas reviradas, jornais espalhados...”.

Felisberto Luisi completa a tese e afirma que “esse eu considero o principal problema do Centro: a limpeza precária. Não vemos qualquer preocupação com o recolhimento do lixo”.

Segundo Alecsandrus Peccin, webdesigner, o real problema é que esse nosso patrimônio histórico não recebe seu devido valor pelo próprio cida
dão. "As pessoas jogam seu lixo na rua depois de passar o caminhão da coleta. Aí fica tudo no chão para os ratos, vira-latas e baratas fazerem a festa!”. Em meio às adversidades, a nostalgia e a busca pela solução começam a imperar. “O Centro já teve melhores épocas. Isso aqui era uma maravilha, não era esse mercado persa que é hoje, com todo mundo vendendo tudo nas ruas. Não há beleza. Se a prefeitura cuidasse mais, colocando jardins e flores, por exemplo, o Centro ia ficar melhor, ia ter um aspecto melhor. Mas não é só isso. A prefeitura também tem que investir em guardas para instruir a população, como na Europa. Lá, se alguém joga um papel de bala no chão, o guarda faz o cidadão juntar e colocar no lixo. Se o pedestre atravessa a rua quando o sinal está verde para os carros, leva multa do guarda!” exclama Sônia Felix de Oliveira, escritora e professora de história. Chegando à Avenida Borges o problema é outro, mas não menos grave. Morador da Rua Riachuelo, o repórter fotográfico Marcelus Trois acusa que as lajotas soltas irritam. "Em dia de chuva não tem como andar pela quadra. O tênis encharca e as calças chegam a manchar, de tanta água suja que sai debaixo dessas calçadas".

Segundo a Secretaria Municipal de Obras e Viação em seu Código de Edificações de Porto Alegre, de 27 de outubro de 1992, “é da responsabilidade
do proprietário manter permanentemente em bom estado de conservação as áreas de uso comum das edificações e as áreas públicas sob sua responsabilidade, tais como passeio, arborização e posteamento”.

No entanto, o poeta Lucas Pires, culpa o sistema pelo tamanho abandono. “A fiscalização do poder público não existe. Mas tem também
o outro lado da moeda: o morador vai à rua, se irrita com as calçadas, xinga o governo em voz baixa, chega em casa, desconta tudo em uma briga com o filho, o vizinho ou a mulher e após isso vai ver a novela e esquece do que aconteceu. Como a situação irá melhorar se a população não botar a boca na rua?”.


Gerente operacional de um hotel próximo à Praça Otávio Rocha, Baltazar da Silva concorda que isso tudo é um descrédito que um vai deixando para o outro. "A fiscalização da prefeitura não funciona e acaba refletindo no morador, que também não coopera. É aquela velha história: ‘não é porque não é meu que eu não vou cuidar’. Resumindo, falta uma conscientização dos moradores e um pouco mais de atenção do poder público”.

O diretor da Divisão de Controle da SMOV, Paulo André Machado, foi procurado pela equipe de reportagem, mas não foi encontrado. Mesmo assim, a secretaria avisa que possui uma Seção de Fiscalização da Secretaria de Obras, onde três equipes de agentes fiscais controlam obras em execução na cidade e calçadas que estejam em desacordo com a legislação municipal, e agem sancionando penalidades aos infratores.

Contudo, quem entra na página na internet d
a SMOV, percebe que a última fiscalização ocorreu em 2005, com a campanha “Calçada Nota Dez”. Se bem que basta caminhar pelo Centro para ver que a legislação está bem longe de ser cumprida.

Reportagem: Maurício Levy
Fotos: Raymond Kao

Como a prefeitura de Porto Alegre mantém as calçadas limpas? - Utilize Firefox para assistir o vídeo





Um comentário:

jornalista Rodney Silva disse...

Laura, vou add os hiperlinks no final de semana, junto com mais algumas alteraçõe.
Coloquei na barra lateral, uma ferramenta que acusa de ql local meu blog já foi acessado, mas ela não é totalmente confiavel, pois na minha casa e de alguns amigos meus, nada acusou.

Bom findi
Bjos